quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

ARROZ DO CÉU



ARROZ DO CÉU ,

de José Rodrigues Miguéis,

fala do quotidiano de um emigrante vindo de uma das repúblicas do Báltico, cujo trabalho é o de limpar o lixo que os cidadãos inconscientes deitam para a rua. O limpa-vias sem nome encarrega-se de limpar as galerias do metro, vivendo como uma toupeira, gozando apenas a luz do sol de forma indirecta – aquela que “cai” pelo respiradouro do metro. Juntamente com a luz vinda lá de fora caem também os detritos que os transeuntes nova-iorquinos – e também os varredores das ruas – acham por bem atirar para o respiradouro (por comodismo) o lixo que o limpa-vias vai ter de apanhar.
Mas, no respiradouro próximo da Igreja, aos Domingos acontece sempre um estranho fenómeno. Sempre que o sino toca, festivo, anunciando um casamento, pelo respiradouro caem……bagos e bagos de arroz.
Um belíssimo conto a chamar a atenção para a cultura do consumo e do desperdício, face à indiferença de um estado que não se esforça por diminuir as clivagens sociais. Indiferença que, nesta pequena estória, está patente na ausência de implementação de uma política social que vise a integração dos imigrantes, os quais desconhecem a língua do país anfitrião e impede a interacção social. Política essa cujo desinteresse, exibido face aos recém-chegados, contribui largamente para estimular o aparecimento de guetos, conflitos, entre diferentes etnias - ou mesmo entre grupos rivais, pertencentes à mesma etnia - despoletando sentimentos colectivos de racismo e xenofobia.
Os contrastes entre o belo e o feio, entre a natureza e a poluição feita pelo Homem dotam o texto de uma beleza melancólica que desperta a sensibilidade tornando o texto como um excelente veículo de transmissão de valores cívicos e, consequentemente, pedagógico.
Excertos de textos de Claudia Sousa Dias publicados no Blog Orgia Literária.

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